NOITES DE NEBLINA
sou um fantasma.
assombro meus próprios sonhos com o medo,
minha maior ameaça sou eu.
enfrento-me com coragem
e me firo na batalha
em desvantagem contra mim.
ao meu lado, outros fantasmas
que assombram seus próprios vícios.
às vezes evito dizer coisa qualquer
pois o timbre de minha voz
carrega o cheiro de almas desconhecidas
de almas escancaradas
e pesa sobre minha laringe
o desejo de cada uma delas.
desejos de almas que querem ser honradas
então me calo pra que elas digam
o que eu preciso dizer.
não sei pra onde vai meu corpo,
para onde me levam
ou pra onde querem que eu me leve
com a força que acendem em meus pés.
então me sento na sacada do engano
esperando que alguma desilusão me rasgue.
eu que costuro trapos com minha saliva
e refaço-os em belas capas
que cobrem os rastros de meu mistério.
gesto imagens do passado
e quando parto, sou observada
por olhos que desejam ver o que vi
que anseiam saber o que eu sei,
apenas aguardando o momento exato
de me furtarem a graça satânica
cultivada em meus nove ventres.
eles tentam levar e alguns conseguem
mas minha cria em suas bocas
jamais se tornará plena criatura.
aprendi sobre benções e maldições
sendo amaldiçoada e abençoada.
conheci as pragas nas chagas que tive.
mastigo o doce hoje
porque ontem cuspi todo amargor
e nem que tentassem saberiam identificar
os ingredientes de minha sopa,
pois o que sirvo é brilho de lua.
é jazz mágico empratado em tábuas de esmeraldas
e me toca o som que ecoa em resposta:
polifonia de almas gratas,
memórias que sigo improvisando em noites de neblina.
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